O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, será recebido quinta-feira (29) em Londres pelo ministro britânico de Finanças, George Osborne. Levy desembarca na cidade para uma agenda de dois dias.
Osborne é uma espécie de “Levy inglês” – desde que assumiu o cargo, em 2010, só pensa em uma coisa: cortar gasto público e aprofundar o programa de austeridade fiscal do governo conservador do primeiro-ministro David Cameron.
Assim como o colega brasileiro, o ministro britânico não tem vida fácil no Parlamento: acaba de passar por um vexame político – e sem precedentes – com a decisão da Casa dos Lordes de postergar a sua controversa proposta de cortar £4,4 bilhões (R$ 26 bilhões) de dois populares programas de benefícios sociais, chamados de “tax credits”. Os lordes querem garantias de que a classe trabalhadora será recompensada de alguma maneira.
O valor do corte representa um terço do que Osborne promete reduzir do setor social pelos próximos quatro anos, como parte da austeridade rígida imposta para zerar o déficit do Reino Unido. Um ajuste que, segundo os trabalhistas, afetou os serviços sociais públicos, elevou o custo de vida e deteriorou a qualificação do mercado de trabalho.
Adversários e consultorias, como o Instituto de Estudos Fiscais (IFS), alegam que o impacto no “tax credit” pode representar uma perda, em média, de £ 1.300 por ano para os trabalhadores de baixa renda.
Osborne diz que não tem jeito: todos precisam dar sua parte para a recuperação econômica do Reino Unido. Ele garante que os afetados pelos ajustes sociais serão recompensados com outras medidas a serem anunciadas em novembro.
Osborne reagiu furioso à derrota política imposta pelos Lordes. Não à toa. Ficou feio para os conservadores porque os Lordes são símbolos da “nobreza política” britânica, parlamentares sem um voto sequer que ganharam de bandeja o cargo – ao contrário da Câmara dos Comuns, eleita e responsável pela formação do governo.
Os lordes, a elite da política britânica, votaram com o “povo”. Mas reclamam os conservadores que os Lordes não costumam (e não deveriam, dizem) se meter em assuntos de orçamentos públicos. Se meteram e causaram confusão.
Osborne avisou: “Vamos continuar nossa reforma no ‘tax credit’ e economizar dinheiro necessário para que os britânicos possam viver dentro de suas possibilidades”.
Osborne e Joaquim Levy vão protagonizar na quinta o chamado “Diálogo Econômico-Financeiro Brasil-Reino Unido”. A agenda menciona genericamente como tópicos economia global, conjuntura econômica, planejamento e financiamento de projetos de infraestrutura, entre outras coisas.