O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta sexta-feira (4) que o Reino Unido aceitará receber “milhares” de refugiados sírios.
A declaração faz parte de um movimento do premiê para reduzir o desgaste do seu governo em meio à crise migratória que atinge a Europa.
Cameron sinalizou, no entanto, que abrirá as portas somente para os refugiados que vivem em campos da ONU e não aos que estão circulando pela Europa tentando chegar a países mais ricos, como o Reino Unido e a Alemanha.
“Isso oferecerá a eles uma rota mais segura e direta para o Reino Unido, ao invés de se arriscar em jornadas perigosas que tragicamente custam muitas vidas”, disse. Segundo ele, o governo vai discutir com a ONU na próxima semana mais detalhes desta ação.
Com o apoio do seu partido, o Conservador, Cameron vinha adotando um discurso de resistência à chegada de mais refugiados – no fim de julho chegou a causar polêmica ao classificar de “enxame” a multidão de imigrantes na cidade francesa de Calais que tentava, naquele período, forçar uma passagem para o Reino Unido por meio do Eurotúnel.
A repercussão internacional da divulgação da foto do corpo do menino Aylan Kurdi, de três anos, numa praia turca, aumentou a pressão para que o governo britânico se alinhasse ao discurso de outros líderes europeus, como o da chanceler alemã Angela Merkel, de buscar uma solução que envolva uma política mais efetiva de abrigo a esses refugiados.
Ao mesmo tempo, setores da própria mídia britânica, até então simpáticos ao discurso de Cameron, também mudaram o tom da cobertura sobre o tema.
“Vamos continuar trabalhando para enfrentar o conflito da Síria, combater as gangues de traficantes que exploram as pessoas e salvar vidas no mar”, disse o primeiro-ministro durante viagem a Lisboa e por meio de sua conta no Twitter. De acordo com o premiê, pelo menos 5.000 sírios já foram recebidos por seu governo.
A ONU afirmou nesta sexta que subiu para 200 mil o número de vagas necessárias para abrigar os refugiados da Europa, diante da crise que atinge o continente.
Somente no ano passado, segundo dados da OIM (Organização Internacional de Migração), 24 mil menores de idade cruzaram o mar Mediterrâneo em direção à Europa – pelo menos metade estava desacompanhada dos pais, entre eles o jovem senegalês Seydou Ba, personagem de reportagem publicada na Folha no ano passado na série “Travessia Clandestina“.
O jovem, então com 16 anos, encarou um bote inflável com 80 pessoas por cinco dias pelo mar Mediterrâneo. Chegou do outro lado do mar após ser resgatado pelos italianos. Havia sobrevivido à base de pão, pedaços de bolo e água. Para chegar à Líbia, de onde partiu para a Itália, encarou 20 dias de ônibus entre Senegal, Mali, Burkina Fasso e Níger, incluindo um amplo trecho atravessando o deserto do Saara.
Em julho, a Folha contou ainda a história do paquistanês Inayat Hussain, 18, que viajou 8.300km por sete países até chegar a Calais, na França.