O professor Panagiotis Petrakis, diretor do departamento de Economia Internacional da Universidade de Atenas, afirma que a população grega não está preparada para votar no plebiscito marcado para o próximo domingo (5) sobre a negociação do país com credores.
Em entrevista à Folha nesta segunda (29), Petrakis, um das principais referências em economia na Grécia, diz que a consulta popular, convocada no fim de semana, pode ser cancelada se houver um acordo até sexta-feira (3).
Para ele, o governo não teve outra saída que não fosse fechar os bancos a partir desta segunda.
Como o sr. vê essas medidas de controle de capital e fechamento de bancos?
É uma situação muito difícil, especialmente para países em desenvolvimento, como a Grécia. Infelizmente, os depósitos bancários gregos têm se enfraquecido nos últimos cinco meses, perderam € 15 bilhões desde então. O sistema bancário está exausto, sem conseguir reagir, e tem que tomar medidas como essa agora por causa de questões políticas que não evoluem. Essa decisão teve de ser tomada para proteger o sistema bancário.
Havia outra alternativa?
Acho que não gastaram tempo pensando em outra alternativa. É claro que a melhor alternativa é chegar a um acordo com os credores. Se houver acordo, essas medidas desaparecem.
O que podemos esperar para os próximos dias?
Esta terça (30) é um dia importante porque vamos ver se o governo grego vai pagar a dívida com o FMI e é quando expira também o programa de resgate. A partir de quarta (1), não haverá proteção externa. Não haverá muito o que fazer sem sistema bancário e temos que ver os passos a serem tomados até o plebiscito, quais serão os resultados até lá, se teremos alguma evolução.
Se as pessoas votarem contra um acordo com os credores, o que pode ocorrer com o país?
Essa é uma boa pergunta, porque não temos certeza se realmente interrromperam as negociações. Eu penso que há sim negociações em curso com os credores. Portanto, espero que haja evolução.
O sr. acredita num acordo até terça?
Até terça, acho difícil, mas até sexta é possível.
Antes do plebiscito, então?
Sim, não estou certo de que esse plebiscito vai ocorrer. A sociedade grega não está preparada para isso, não tem muito conhecimento, não conseguiu entender. Acredite: eu e outros colegas tentamos interpretar as propostas dos credores e do governo. Gastamos três dias e nossa conclusão é que as duas propostas não são tão diferentes. É muito difícil para entendermos e é difícil para as pessoas também.
O Syriza foi eleito prometendo combater medidas de austeridade. Como o sr. vê a situação do partido agora?
É algo que tiveram de reconsiderar. Nós sabíamos desde começo, era óbvio que as coisas não ocorreriam daquela maneira.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras cometeu erros?
Erros foram cometidos pelos dois lados. A Grécia é parte da zona do euro. Há um governo da zona do euro e que é o principal responsável por isso, mas a Grécia, claro, também tem sua culpa.