Maioria dos gregos quer ficar na zona do euro, dizem pesquisas

Por Leandro Colon

Duas pesquisas divulgadas por jornais da Grécia neste domingo (28) apontam que a maioria da população é a favor de um acordo com os credores e, consequentemente, da permanência na zona do euro.

Os dois levantamentos foram feitos entre quarta (24) e sexta-feira (26), em meio às negociações com os credores e antes do anúncio do governo de uma consulta popular no dia 5 de julho sobre o tema. O Parlamento do país aprovou na madrugada deste domingo a realização da votação.

Segundo pesquisa do jornal “Proto Thema”, feita pelo instituto Alco, 57% defenderam um acordo com os credores para o país continuar no bloco da moeda única, e 29% responderam preferir um rompimento. Ao todo, 1.000 pessoas foram ouvidas.

Já o jornal “To Vima” divulgou pesquisa do instituto Kapa com 1.005 entrevistados em que 47,2% são favoráveis a uma solução dentro da zona do euro e 33% contra (18% estavam indecisos).

Os países da zona do euro rejeitaram a proposta da Grécia de prorrogar a dívida que vence terça-feira (30) para a realização da consulta popular no país em 5 de julho.

O presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, disse neste sábado que o governo grego “fechou as portas” ao propor essa votação.

A Grécia precisa evitar o calote de € 1,6 bilhão no FMI até terça-feira (30). Para tanto, quer desbloquear o acesso a € 7,2 bilhões, última parcela do socorro de € 240 bilhões recebido do FMI e do BCE (Banco Central Europeu) desde 2010.

Os credores exigem compromissos fiscais, cortes de gastos e reforma profunda na Previdência. A Grécia fez uma proposta de ajuste de € 7,9 bilhões que não foi aceita.

Em discurso no Parlamento, o premiê Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, afirmou que querem forçar a Grécia a aceitar um acordo “humilhante”.

“A Grécia não vai se render”, disse. “Não é uma decisão de romper com a Europa, mas querem que assinemos um acordo de recessão e morte lenta”, afirmou.

O ex-premiê Antonis Samaras, do centro-direita Nova Democracia, disse que a consulta é um “suicídio”. Segundo ele, a população vai votar sem saber o que vai ocorrer se o resultado for contra um acordo com os credores.

Os chefes das 19 economias da zona do euro se encontraram sábado (27) em Bruxelas para avaliar pedido para prorrogar por um mês da dívida grega. Sem ser atendido, o ministro grego Yanis Varoufakis abandonou a reunião.

O efeito imediato será conter a insolvência dos bancos locais. Jornais gregos relatam grandes filas nos caixas eletrônicos neste sábado, crescendo o fluxo de saques que superaram € 5 bilhões nas duas últimas semanas.

O Banco Central Europeu (BCE) pode decidir neste domingo se vai manter a margem de assistência de liquidez de emergência ao bancos gregos a partir desta quinta. Caso contrário, o governo terá de discutir o controle de capitais, ou seja, impor limites de retiradas – há uma expectativa de que os bancos nem abram nesta segunda.

Eleito em janeiro sob a bandeira contra medidas de austeridade, Tsipras vive o dilema de topar um acordo que contradiz seu discurso de campanha ou levar o país a um caminho cada vez mais distante da zona do euro.

O premiê faz uma aposta de risco político: se a população optar pela negociação, Tsipas vai, em tese, aceitar algo, segundo suas palavras, “humilhante” para a Grécia.

O governo grego rejeitou na sexta uma última oferta dos países da zona do euro de prorrogar por mais cinco meses a dívida em troca de receber uma ajuda de € 16,3 bilhões. O novo socorro dependeria, no entanto, de a Grécia concordar com as reformas.