No dia em que o governo britânico anuncia regras que tornam crime o trabalho clandestino, levantamento divulgado nesta quinta-feira (21) aponta que cresceu de maneira significativa, entre 2013 e 2014, o fluxo de imigrantes para o Reino Unido.
O movimento do governo não foi coincidência. O primeiro-ministro David Cameron (Partido Conservador) já sabia dos números e antecipou o anúncio das medidas para diminuir o impacto negativo do balanço. Oficialmente, as mudanças devem aprovadas no Parlamento somente a partir de semana que vem, após o tradicional discurso da rainha Elizabeth 2ª que abre os trabalhos legislativos do ano.
Segundo dados do ONS (o serviço de estatística do país), 641 mil pessoas imigraram para a região em 2014, ante 526 mil em 2013. Ao mesmo tempo, 323 mil fizeram o caminho contrário. Esse saldo de 318 mil, entre quantos chegam e quantos saem, é o mais alto em uma década e está mais de três vezes acima da meta de David Cameron, que promete chegar ao patamar de 100 mil.
Desses 641 mil que imigraram, pelo menos 284 mil foram com o intuito de trabalhar, um número 70 mil maior do que em 2013. Do total, 268 mil são cidadãos da União Europeia, um aumento de 67 mil em relação ao ano anterior. Ao todo, 290 mil são cidadãos não europeus, um crescimento de 42 mil.
O premiê David Cameron fez um discurso em Londres para comentar as medidas que criminalizam o trabalho ilegal de imigrantes.
“Estamos abertos para talentos, mas a imigração tem de ser controlada, é isso o que queremos. Está fácil trabalhar ilegalmente aqui”, afirmou. “Somos um país aberto para turistas e estudantes. As pessoas vêm para estudar e ficam, vêm passar férias e decidem trabalhar ilegalmente”, disse o premiê.
Ele ainda destacou a maioria obtida por seu partido na última eleição e que deve garantir a aprovação das regras sem muito obstáculo.
Segundo as medidas, a polícia terá poder para tomar salários e deportar imediatamente quem for pego nessa condição Além disso, as autoridades pretendem aumentar o rigor sobre quem contratar esses estrangeiros e criar um sistema por satélite para vigiá-los até deixarem de vez o Reino Unido.
A ideia é implementar a regra “deport first, appeal later” (deportar primeiro, recorrer depois -ou seja, já no seu território de origem).
A rede BBC calcula que sejam ao menos 8 milhões de imigrantes, o que perfaz 12,5% da população oficial do país. Entre eles, há possivelmente 350 mil brasileiros (com e sem visto). Ter visto não significa permissão para trabalhar – é o caso, por exemplo, de quem chega só para estudar.
Ao todo, de 300 mil a 600 mil estrangeiros podem estar ilegalmente no Reino Unido. Não se sabe, no entanto, quantos deles realmente trabalham.
Nesta quinta, a ministra do Interior, Theresa May, defendeu as medidas, em entrevista à rede BBC.