“Desempenho de partido escocês deve ser espetacular”, diz professor

Por Leandro Colon

O SNP (Partido Nacional Escocês) será o grande vencedor das eleições desta quinta-feira (7) no Reino Unido, destaca o professor emérito de política da Universidade de Oxford Archie Brown.

O partido, segundo indicam as pesquisas, deve obter mais de 50 entre as 59 cadeiras escocesas no Parlamento em Londres. Hoje, tem apenas seis. O SNP cresceu após o plebiscito de separação da Escócia, realizado em setembro do ano passado. Apesar de a independência ter sido rejeitada, o placar foi apertado, levando a legenda a se fortalecer entre os escoceses.

“A diferença entre o caminho tomado pela Escócia e os resultados das últimas eleições no Reino Unido como um todo levou a uma ascensão do nacionalismo político escocês”, afirmou em entrevista a Folha o professor Archie Brown, autor do livro “The Myth of the Strong Leader: Political Leadership in the Modern Age”, que discute a relevância de grandes líderes na política.

A líder do SNP, Nicola Sturgeon, já deixou claro que, se depender dela, os conservadores, do premiê David Cameron, vão deixar o governo britânico. Para o professor Archie Brown, o cenário mais provável pós-eleição é um apoio do SNP para eleger o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, primeiro-ministro.

O que levou a essa fragmentação política no Reino Unido?

Archie Brown – Nas primeiras eleições após a Segunda Guerra Mundial, a dominação dos dois principais partidos, trabalhistas e conservadores, era esmagadora. Isso vem mudando gradualmente desde a década de 1960.

Até 2010, a natureza majoritária do sistema eleitoral do Reino Unido significava que, mesmo quando atingiam menos de 40% dos votos, trabalhistas ou conservadores conseguiam formar um governo sem precisar do apoio de qualquer outro partido .

É o desempenho do Partido Nacional Escocês que provavelmente será o mais espetacular. Até os anos 70, a Escócia teve uma parcela maior da indústria pesada do que em qualquer outra parte e houve uma forte solidariedade entre os trabalhadores da indústria na Escócia, Inglaterra e País de Gales.

Entre 1959 e 2010, a Escócia votou na maioria trabalhista para Westminster, e em cada vez menos conservadores – nenhum em 1997, apenas um em 2010. A diferença entre o caminho tomado pela Escócia e os resultados das eleições no Reino Unido como um todo levou a uma ascensão do nacionalismo político escocês.

No momento eles têm apenas seis dos 59 lugares escoceses no Parlamento e a projeção é obter algo perto de 50 nesta eleição. Isso é um desastre para o Partido Trabalhista, que na última eleição geral ganhou 41 dos assentos na Escócia.

Na sua opinião, qual o acordo mais provável para formar um governo?

Archie Brown – O resultado mais provável é um governo minoritário do Partido Trabalhista recebendo apoio do SNP (Partido Nacional Escocês), dos nacionalistas galeses, e de alguns deputados da Irlanda do Norte e um provável membro do Partido Verde.

Os conservadores podem ser o maior partido, mas é mais difícil para eles montar uma maioria. É praticamente certo que o SNP será o terceiro maior partido e eles já disseram que não há circunstâncias que os façam manter os conservadores no poder. Estão dispostos a fazer um acordo com os trabalhistas.

O Partido Trabalhista descartou qualquer acordo formal, mas um tipo de cooperação com o SNP é a única maneira para formarem um governo. É razoável supor que as discussões entre as duas partes ocorram após a eleição. Embora discordem sobre a independência escocesa, eles têm muitas políticas comuns.

Como o sr. vê a atuação de David Cameron e Ed Miliband em termos de política externa?

Archie Brown – Após as guerras desastrosas no Iraque e no Afeganistão, a política externa britânica tornou-se muito mais cautelosa. Não há apetite para intervenções militares. Mesmo na diplomacia, o Reino Unido tornou-se menos ativo do que a Alemanha e a França.

É provável que a Alemanha continuará a ter um papel mais importante, pois é um país maior, com uma economia mais diversificada, menos dependente de serviços financeiros e uma política democrática mais estável.

Nem o atual primeiro-ministro britânico David Cameron, nem o líder trabalhista Ed Miliband são “líderes fortes”, no sentido de ser dominador, e isso não é ruim.

Cameron, no entanto, colocou o partido à frente do interesse nacional britânico. Ele tem feito isso ao não construir alianças fortes com importantes parceiros da União Europeia, prometendo um referendo sobre permanecer ou sair da UE.

Cameron também está buscando a política de uma “pequena Inglaterra”, estimulando a indignação na Inglaterra sobre o chance de o separatista Partido Nacional Escocês ter influência sobre a formação do próximo governo britânico.

Com isso, só pode fortalecer o ressentimento na Escócia e fazer a separação escocesa do Reino Unido mais provável.

Há, na minha opinião, uma chance de 50%, dentro das próximas duas décadas, de o Reino Unido perder um terço de seu território e 8% de sua população como resultado da Escócia se tornar um Estado independente.