Líder trabalhista britânico se inspira na Alemanha, diz autor de livro

Por Leandro Colon

As eleições do Reino Unido desta quinta-feira (7) podem levar ao cargo de primeiro-ministro o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, um tanto desconhecido do cenário político internacional e que sofre para melhorar sua popularidade entre os britânicos.

A edição da Folha desta quarta (8) traz um perfil sobre Miliband. Conversei com o professor Tim Bale, da Queen´s University, que lançou na campanha o badalado livro “Five Year Mission: The Labour Party under Ed Miliband” (algo como “missão de cinco anos: o Partido Trabalhista sob Ed Miliband”).

O livro busca descrever o período de Miliband à frente do Partido Trabalhista desde 2010 (leia aqui um artigo no “The Guardian” sobre a obra).

Miliband discursa em conferência do Partido Trabalhista
Miliband discursa em conferência do Partido Trabalhista

O Partido Conservador, do primeiro-ministro David Cameron, vai ficar em primeiro lugar em números de cadeiras no Parlamento, segundo as pesquisas. No entanto, Cameron deve ter dificuldades em obter uma maioria para governar, mesmo que tente repetir a coalizão com o partido Liberal-Democrata, legenda que perdeu força desde as últimas eleições, em 2010.

O SNP (Partido Nacional da Escócia) tende a ser a grande sensação das eleições e levar quase todas as 59 cadeiras escocesas em Londres (hoje tem apenas seis). Como provável terceira força do Parlamento, já disse que quer os conservadores fora do governo e pode decidir o jogo a favor dos trabalhistas.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista com o professor Tim Bale:

Como o sr. descreveria Ed Miliband para quem não vive no Reino Unido?

Miliband é um político de centro-esquerda que basicamente acredita que a economia do Reino Unido vai crescer e ter melhores serviços públicos (como saúde e educação) se os trabalhadores comuns tiverem a oportunidade e os recursos para participar efetivamente dessa economia e da vida pública em geral.

Ele acredita no capitalismo, mas não no neoliberal associado ao modelo econômico dos EUA ou de Margaret Thatcher. Prefere que o Reino Unido aprenda a partir de um país como a Alemanha, cuja economia não é tão dependente de serviços financeiros, que tem boa infraestrutura, gasta muito em educação e formação para ajudar os jovens a encontrar emprego.

Quais as virtudes e as fraquezas dele como político?

Seus pontos fortes são a sua capacidade de resistência – ele sempre parece se recuperar, eventualmente, de retrocessos, sua inteligência emocional – é um cara realmente legal, capaz de manter as pessoas em volta, e sua auto-confiança.

Os pontos fracos são uma ligeira tendência à indecisão e às vezes em ouvir as pessoas sem necessariamente ouvi-las. Mas a maior fraqueza, talvez, seja sua aparência e sua voz, algo que a mídia de direita do Reino Unido tem explorado e faz com que alguns eleitores pensem que ele é fraco e estranho.

Pesquisas mostram que ele tem dificuldade em se fortalecer como um líder para os britânicos. Por que isso ocorre?

Na verdade, ele tem feito progressos consideráveis durante a campanha, embora, mesmo assim, sua avaliação na população tenha saído de muito ruim para um mero medíocre. As aparições na televisão têm dado oportunidade de recorrer mais diretamente aos eleitores e reverter expectativas que muitos tinham dele. No final, porém, na política, assim como na vida, a oportunidade de mudar o pensamento das pessoas sobre você é limitada uma vez que se formaram as primeiras impressões, especialmente se essas primeiras impressões são baseadas na aparência e na voz, coisas que, a menos que você esteja preparado para realizar uma cirurgia radical, não tem muito o que fazer.

Como o sr. analisa o episódio dele na disputa com o irmão David dentro do Partido Trabalhista?

Foi um processo muito doloroso para todos os envolvidos, mas foi inevitável. David não tinha o direito divino de ser o próximo líder do Partido Trabalhista. Para Ed, era uma oportunidade de agora ou nunca. Se David tivesse ganhado, as chances de o partido, em seguida, escolher outro Miliband como líder seriam muito pequenas. Ed simplesmente tinha que ir adiante, independentemente das consequências.