Tony Blair foi primeiro-ministro britânico por dez anos (1997-2007) e uma das principais lideranças globais de sua época.
Desde que deixou Downing Street, o sucessor, Gordon Brown (colega no Partido Trabalhista), e o atual premiê, David Cameron (Conservador), não conseguiram manter o mesmo protagonismo externo do Reino Unido.
Um tanto sumido, Blair deu as caras nesta terça-feira (7) na região de Sedgefield, distrito por onde se elegia membro do Parlamento. Convocou toda a imprensa britânica para dar seu pitaco na campanha para a eleição de 7 maio.
Resumindo: declarou apoio ao líder do seu partido, Ed Miliband, e atacou Cameron e os conservadores (leia aqui o discurso, em inglês). Criticou o referendo que os conservadores prometem para 2017 sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. “Sair da Europa deixaria a Grã-Bretanha diminuida no mundo, causando danos significativos para a nossa economia e iria contra muitas qualidades que nos marcam ainda como uma grande nação global”, disse o líder político.
Blair, hoje em dia, pode mais atrapalhar do que ajudar Ed Miliband. Até porque ambos se detestam. Não à toa, enquanto Blair discursava, Miliband fazia campanha em outra cidade.
Em seu discurso, o ex-premiê citou o colega duas vezes e só. Apenas depois do evento, questionado por repórteres, Blair afirmou apoiá-lo “100%”.
Blair é visto como uma peça que pouco contribui em termos de popularidade, ainda mais numa disputa que promete ser uma das mais acirradas da história do Reino Unido. O desastre britânico no episódio da invasão ao Iraque não se descola dele, assim como o caminho “centrista” que adotou no governo e no seu partido .
Ao mesmo tempo, no entanto, ainda é uma liderança que desperta paixões políticas e capaz de captar as atenções da mídia. É eloquente à frente das câmeras, habilidade que o põe a quilômetros de distância de Ed Miliband, limitado no quesito microfone.
Se dependesse de Blair, o irmão de Ed Miliband, David, seria a nova liderança trabalhista e um dia, quem sabe, o primeiro-ministro. Cria de Gordon Brown, Ed deu uma “rasteira” no irmão e tomou o lugar.
Patrick Wintour, editor de política do “The Guardian”, destaca que o ex-premiê é uma arma secreta que pelo menos metade dos trabalhistas quer manter assim, secreta. “É como aquele parente mais velho e complicado que todos prefeririam não convidar para um casamento da família”, diz.
Já que não foi convidado para a festa, Blair, ao que parece, decidiu entrar de penetra.