Crimeia constrói monumento que celebra famosa reunião da 2ª Guerra

Por Leandro Colon

Em um belo e elegante palácio na península da Crimeia, à beira do mar Negro, decisões políticas tomadas há 70 anos foram essenciais para desenhar um novo mapa da Europa e mudar o curso da história.

Um monumento de bronze inaugurado em fevereiro pela Crimeia (agora sob as ordens do governo russo) no Palácio de Livadia, na cidade de Ialta, reproduz uma das clássicas imagens do encontro entre Winston Churchill (Reino Unido), Franklin Roosevelt (Estados Unidos) e Joseph Stalin (União Soviética), chamados de “Big Three” da Segunda Guerra.

Na escultura, de 10 toneladas, Churchill e Roosevelt estão focados em Stalin, cuja imagem é 10 cm mais alta que a dos outros dois  – uma singela provocação para dar um tom de superioridade russa.

Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, os três comandaram a “Conferência de Ialta”, que discutiu os passos finais da guerra, naquele momento praticamente vencida pelos Aliados.

Monumento inaugurado no mês passado. (Crédito: Leandro Colon)
Monumento inaugurado no mês passado: Churchill, Roosevelt e Stalin (Crédito: Leandro Colon)

Visitei o palácio durante recente viagem à Crimeia (leia aqui reportagem publicada pela Folha nesta terça). É um passeio pela história: ali estão as salas onde Churchill, Roosevelt, Stalin e suas delegações acertaram os passos finais da Segunda Guerra.

O local teria sido sugerido por Stalin, que alegara estar impedido pelos médicos de realizar longas viagens – convidou então os demais a ir até a Crimeia (o fato é que ele não queria deixar a União Soviética).

O monumento quase foi inaugurado na década passada pelo governo da Ucrânia, que então controlava a península. Mas a ideia foi abortada por causa da resistência da população da etnia tártara (12% da Crimeia), que considera Stalin um vilão por tê-la expulsado da região durante a guerra sob a acusação de que teria colaborado com a Alemanha nazista.

Abaixo, um vídeo disponível na internet sobre a conferência de 1945:

O Palácio de Livadia era uma espécie de “casa de verão” da família imperial russa. Hoje, é um museu. Nos corredores, estão expostas fotos do czar Nicolau 2º (reinado de 1894-1917), mulher e filhos se divertindo no lugar.

A cidade de Ialta transformou-se em um resort de férias para os soviéticos – agora está um tanto decadente, mas deve ser um dos focos de investimento do governo russo para estimular a economia e o turismo na Crimeia.

Os líderes definiram naquela conferência, por exemplo, os pontos para uma rendição incondicional da Alemanha nazista – que mais tarde seria símbolo da Guerra Fria, e ações contra o Império japonês.

O futuro dos países do leste europeu também foi um dos principais temas do encontro. A partir de 1946, quando o conteúdo das reuniões veio a público, os americanos alegaram que Stalin não cumpriu a promessa de trabalhar pela liberdade política em países como Polônia, Hungria, Romênia e Bulgária.

Uma das salas do palácio onde se discutiu o futuro da guerra
Uma das salas do palácio onde se discutiu o futuro da guerra. (Crédito: Leandro Colon)

O rompimento sinalizou o futuro da Europa nas décadas seguintes. Roosevelt sofreu críticas nos Estados Unidos por ter praticamente entregue, ali na Crimeia, o leste da Europa a Stalin. Em Ialta ficou também garantida a participação soviética nas Nações Unidas.

A reunião foi a segunda das três grandes conferências das três potências nos tempos da guerra. A primeira ocorreu em Teerã, entre 28 de novembro e 1º de dezembro de 1943. A terceira e última em Potsdam (Alemanha), em julho de 1945. Nela, Churchill cedeu lugar no meio do encontro ao novo premiê Clement Attlee, e Harry Truman substituiu Roosevelt, que morrera três meses antes.

Outra sala usada pelos líderes no encontro da Crimeia
Outra sala usada pelos líderes no encontro da Crimeia. (Crédito: Leandro Colon)