Uma psicóloga brasileira passou o último mês no front no leste ucraniano dando assistência a civis vítimas do conflito entre rebeldes separatistas e forças de Kiev.
Ana Cecília Weintraub, 32, da ONG Médicos Sem Fronteiras, deixa nesta sexta-feira (6) a região de Donetsk, onde ficou desde o dia 5 de fevereiro.
No período, integrou missões médicas nas áreas mais afastadas da cidade, um dos principais pontos da disputa que já matou 6.000 pessoas desde abril do ano passado.
Em entrevista dada nesta quinta (5) à Folha, ela contou que a situação de tensão, neste momento, aparenta estar mais calma após o cessar-fogo estabelecido entre os dois lados. “Mas ainda há relatos de bombardeios”, disse.
Ana Cecília atendeu de seis a oito ucranianos por dia para tratar do pânico e de outros sintomas psicológicos causados pelos ataques.
A ONG Médicos Sem Fronteiras diz ter feito, ao todo, 700 sessões individuais de tratamento mental e 1.760 em grupo até agora.
“Nosso papel é acolher o sofrimento dessas pessoas, e não retê-lo. Explicar que é normal a sensação de pânico e pavor num cenário como esse”, contou a brasileira.
Segundo ela, um dos principais problemas é o trauma causado pelo tempo em que os moradores se abrigam em porões para se proteger dos bombardeios.
“Há histórias de todos os tipos, desde de uma garota de sete anos ferida no abdômen a uma senhora que teve a casa destruída enquanto estava no vizinho”, relatou.
A maioria dos atendimentos médicos tem sido focada em pessoas mais velhas, que sofrem de diabetes e hipertensão.
“Nem todas as doenças foram causadas diretamente pelo conflito, mas a tensão reflete na falta de suprimentos médicos, que não estão chegando a áreas mais afastadas. E então parte da população precisa desse tipo de atendimento também”, destacou a brasileira.
“Tentamos priorizar vilas menores, onde não há remédios. Apesar do cessar-fogo, a demanda por suprimentos médicos continua”, explicou.
Segundo a ONG, 100 instalações médicas foram instaladas nos dois lados da disputa.
Com a situação aparentemente está mais calma, quem deixou a região tenta voltar para casa e a população busca retomar a rotina.
“Uma das coisas mais interessantes é que a ópera de Donetsk tem tentado manter suas apresentações, a preços mais baixos, como forma de manter a atividade para a população. Eu mesma fui a duas apresentações. Uma delas era o espetáculo Carmen”, disse.