Para entender a eleição na Grécia

Por Leandro Colon

Cerca de 9,8 milhões de gregos vão às urnas neste domingo eleger um novo Parlamento. Daí, sairá um novo governo para a Grécia, um país ainda em ressaca profunda da crise econômica de 2010.

Na prática, os gregos vão responder se concordam ou não com as condições impostas pela Europa para salvar o país da quase falência estatal.

As regras da democracia grega podem, num primeiro momento, parecer confusas, mas não são.

A eleição foi convocada em dezembro depois que o Parlamento fracassou em eleger o novo presidente do país.

O cargo é meramente simbólico, mas a sua não eleição significa, em tese, que o governo não tem mais maioria e um novo precisa ser formado.

A coalizão do primeiro-ministro Antonis Samaras, do centro-direita Nova Democracia e no poder desde 2012, não conseguiu os votos necessários para eleger um presidente. O Parlamento foi então dissolvido e uma eleição legislativa convocada para este domingo (25).

As pesquisas apontam o partido de esquerda radical Syriza em primeiro lugar, com cinco pontos percentuais de vantagem sobre o Nova Democracia. Os números colocam o Syriza entre 31% e 35% das intenções de votos.

Além deles, partidos menores também estão na disputa: o Pasok, que chegou a 12% nas últimas eleições, a extrema-direita do Aurora Dourada, o Independente, o Comunista, entre outros. Para ter representação no Parlamento, exige-se o mínimo de 3% dos votos obtidos na eleição.

O primeiro-ministro, Antonis Samaris, do Nova Democracia. Crédito: Orestis Panagiotou/Efe
O primeiro-ministro, Antonis Samaris, do Nova Democracia. Crédito: Orestis Panagiotou/Efe

Pois, bem. Chega a hora da votação. A eleição será realizada das 7h às 19h. Por volta das 21h (17h, no horário de Brasília), os primeiros resultados oficiais serão divulgados – antes disso, as pesquisas de boca-de-urna serão liberadas.

Ao todo, são 300 cadeiras do Parlamento em jogo. Dessas, 250 são distribuídas proporcionalmente de acordo com o resultado. As outras 50 são dadas como um “plus” ao partido que ficar em primeiro lugar. Por exemplo: se o partido mais votado conseguir 35% dos votos, terá 105 cadeiras + 50, ou seja, ficará com 155.

Quem chegar a pelo menos 151 cadeiras atinge maioria para governar e indicar o primeiro-ministro.

E se nenhuma legenda somar esse número? O partido que obteve o maior número de votos terá três dias para formar uma coalizão com legendas menores, ou seja, criar um governo de alianças.

Se fracassar, o segundo colocado terá outros três dias e, finalmente, em caso de falta de acordo, o terceiro melhor posicionado na eleição terá sua chance de negociar.

Na hipótese de ninguém chegar a um consenso político, novas eleições serão convocadas, provavelmente para março.

Por isso, o fato de o Syriza ficar em primeiro lugar não significa automaticamente que o partido vai governar a Grécia. É grande a probabilidade de a esquerda não atingir nas urnas o percentual necessário para 151 cadeiras.

E aí deve começar a confusão. Seus líderes adotaram como bandeira de campanha o discurso contra as medidas de austeridade fiscal implementadas pelo governo grego nos últimos anos em troca do resgate de 245 bilhões de euros do FMI e do BCE.

Em 2014, a Grécia apresentou os primeiros sinais de que saiu da recessão, mas seu desemprego continua o mais alto da Europa –cerca de 26%, e a dívida pública atinge a casa dos 175% do PIB.

O Syriza quer o perdão dessa dívida, renegociar o restante, além de ter anunciado um pacote de benefícios sociais que impactam as contas. É um programa de governo que assusta e afasta os demais partidos.

Ou seja, se não conseguir na urna a maioria para governar, o Syriza terá de sentar à mesa para negociar e, muito provavelmente, ceder e adotar um discurso mais moderado.