Em Atenas, pacote do BCE chega como recado na véspera de eleição

Por Leandro Colon

O partido de esquerda radical Syriza fez na noite desta quinta-feira (22) uma espécie de “comício da vitória” aqui em Atenas, com a presença de seu líder, Alexis Tsipras. Pesquisas mantêm o partido como favorito nas eleições legislativas de domingo para a formação de um novo governo na Grécia.

O Syriza já tenta celebrar vitória ao mesmo tempo em que o BCE (Banco Central Europeu) anuncia um pacote de estímulo de 60 bilhões de euros mensais para a economia europeia.

A Grécia entrou no pacote, mas sob condições especiais, assim como deve ocorrer para outros países que integram o plano de socorro financeiro dos últimos anos. O recado foi dado: o BC europeu está disposto a ajudar ainda mais os gregos, mas eles precisam continuar fazendo sua parte.

Eleitores do Syriza celebram líder Alexis Tsipras em comício nesta quinta. Crédito: Leandro Colon
Eleitores do Syriza celebram líder Alexis Tsipras em comício nesta quinta. Crédito: Leandro Colon

Uma possível vitória do Syriza assusta os vizinhos europeus, ainda mais em um momento de tentativa de controle da sua economia e do combate à deflação.

Um conglomerado de tendências de esquerda na Grécia, o Syriza balança a bandeira do rompimento com as medidas de austeridade negociadas em 2010 (quando o país quase veio à falência estatal) pelo governo, em troca do resgate de 245 bilhões de euros recebidos do BCE e do FMI.

O partido quer ainda renegociar e pedir perdão de pelo menos metade da dívida pública do país, que hoje atinge 175% do seu PIB. Promete também uma cesta de benefícios sociais que afetam as contas públicas, como o fornecimento de energia gratuita a 300 mil cidadãos e subsídios de moradia popular.

Suas lideranças argumentam que as medidas de austeridade da centro-direita podem ter até tirado a Grécia da recessão em 2014, mas o país continua em declínio social, com uma economia que retrocedeu 25% desde 2008 e que apresenta a maior desemprego na Europa, em torno de 26%.

Com esse discurso, o Syriza tem conquistado os eleitores gregos insatisfeitos com os rumos do país e a fiel subordinação fiscal às potências vizinhas.

O aperto nas contas da Grécia, que incluiu aumento de impostos e corte de cargos públicos, fez parte de compromissos para receber ajuda externa. O não cumprimento deles, alertam as lideranças europeias, poderia não só afetar a já frágil economia grega, como respingar em todo o continente.

Pressionado a dar garantias de que terá responsabilidade fiscal, o líder do partido , Alexis Tsipras, já disse que, se virar primeiro-ministro, não tem intenção de deixar a zona do euro. Por outro lado, tem afirmado que vai buscar cada governo para negociar a dívida grega, e não o BCE, por exemplo.

Segundo as recentes pesquisas, a legenda tem entre 31% e 33% da preferência dos eleitores, ante 27% a 28% da Nova Democracia, do atual primeiro-ministro, Antonis Samaras.

As eleições foram convocadas depois do fracasso da coalizão de Samaras em eleger um novo presidente da Grécia, em dezembro – a Constituição grega diz que o Parlamento deve ser dissolvido e novas eleições realizadas se os votos para elegê-lo não forem obtidos.

Ao todo, são 300 cadeiras do Parlamento em jogo para receber os votos de 9,8 milhões de gregos. As pesquisas mostram que o Syriza, por enquanto, não conseguiria atingir as 151 cadeiras necessárias para governar sozinho. Precisará, ao que tudo indica, negociar uma coalizão com outras legendas.

Ao negociá-la, o partido provavelmente será cobrado a ceder e adotar um discurso mais moderado. Até porque, se não formar maioria, novas eleições devem ser convocadas, como manda a Constituição grega em caso de fracasso na formação de um governo no país.