O partido de esquerda radical Syriza fez na noite desta quinta-feira (22) uma espécie de “comício da vitória” aqui em Atenas, com a presença de seu líder, Alexis Tsipras. Pesquisas mantêm o partido como favorito nas eleições legislativas de domingo para a formação de um novo governo na Grécia.
O Syriza já tenta celebrar vitória ao mesmo tempo em que o BCE (Banco Central Europeu) anuncia um pacote de estímulo de 60 bilhões de euros mensais para a economia europeia.
A Grécia entrou no pacote, mas sob condições especiais, assim como deve ocorrer para outros países que integram o plano de socorro financeiro dos últimos anos. O recado foi dado: o BC europeu está disposto a ajudar ainda mais os gregos, mas eles precisam continuar fazendo sua parte.
Uma possível vitória do Syriza assusta os vizinhos europeus, ainda mais em um momento de tentativa de controle da sua economia e do combate à deflação.
Um conglomerado de tendências de esquerda na Grécia, o Syriza balança a bandeira do rompimento com as medidas de austeridade negociadas em 2010 (quando o país quase veio à falência estatal) pelo governo, em troca do resgate de 245 bilhões de euros recebidos do BCE e do FMI.
O partido quer ainda renegociar e pedir perdão de pelo menos metade da dívida pública do país, que hoje atinge 175% do seu PIB. Promete também uma cesta de benefícios sociais que afetam as contas públicas, como o fornecimento de energia gratuita a 300 mil cidadãos e subsídios de moradia popular.
Suas lideranças argumentam que as medidas de austeridade da centro-direita podem ter até tirado a Grécia da recessão em 2014, mas o país continua em declínio social, com uma economia que retrocedeu 25% desde 2008 e que apresenta a maior desemprego na Europa, em torno de 26%.
Com esse discurso, o Syriza tem conquistado os eleitores gregos insatisfeitos com os rumos do país e a fiel subordinação fiscal às potências vizinhas.
O aperto nas contas da Grécia, que incluiu aumento de impostos e corte de cargos públicos, fez parte de compromissos para receber ajuda externa. O não cumprimento deles, alertam as lideranças europeias, poderia não só afetar a já frágil economia grega, como respingar em todo o continente.
Pressionado a dar garantias de que terá responsabilidade fiscal, o líder do partido , Alexis Tsipras, já disse que, se virar primeiro-ministro, não tem intenção de deixar a zona do euro. Por outro lado, tem afirmado que vai buscar cada governo para negociar a dívida grega, e não o BCE, por exemplo.
Segundo as recentes pesquisas, a legenda tem entre 31% e 33% da preferência dos eleitores, ante 27% a 28% da Nova Democracia, do atual primeiro-ministro, Antonis Samaras.
As eleições foram convocadas depois do fracasso da coalizão de Samaras em eleger um novo presidente da Grécia, em dezembro – a Constituição grega diz que o Parlamento deve ser dissolvido e novas eleições realizadas se os votos para elegê-lo não forem obtidos.
Ao todo, são 300 cadeiras do Parlamento em jogo para receber os votos de 9,8 milhões de gregos. As pesquisas mostram que o Syriza, por enquanto, não conseguiria atingir as 151 cadeiras necessárias para governar sozinho. Precisará, ao que tudo indica, negociar uma coalizão com outras legendas.
Ao negociá-la, o partido provavelmente será cobrado a ceder e adotar um discurso mais moderado. Até porque, se não formar maioria, novas eleições devem ser convocadas, como manda a Constituição grega em caso de fracasso na formação de um governo no país.