Aos domingos, terças e quintas, a Igreja São Matheus, inaugurada no bairro londrino de Brixton há 190 anos, se prepara para receber os fieis.
Ao mesmo tempo, no subsolo, um grupo termina a limpeza do que sobrou na noite anterior de tapas, paella e muito vinho no Grêmio de Brixton, bar espanhol que fica exatamente debaixo do templo anglicano.
Aberto desde março do ano passado, o local é parte de uma Londres secreta, distante do olhar imediato de um turista e que atrai não só pelo que oferece mas também pelo inusitado do lugar.
Você aprecia tapas debaixo de onde o ex-premiê John Major casou-se com sua mulher Norma Johnson em 1970. Ainda bebe todas num espaço sombrio decorado com imagens de touradas, da família real espanhola, tudo misturado a velas e símbolos religiosos, inclusive católicos – apesar da vizinhança anglicana.
Quem vier a Londres agora no período de férias merece sair dos pontos mais turísticos e descobrir o que está escondido no roteiro “underground” ou pelas ruas pouco habitadas. Londres vai muito além de pubs, muito.
Tem contribuído para esse movimento a resistência ao aumento desenfreado de arranha-céus na cidade. Recentemente, um grupo de intelectuais e arquitetos liderou uma revolta para barrar a construção de mais prédios altos em Londres. Foi divulgado um estudo com a previsão de 236 novas torres nos próximos anos, sendo 22 com mais de 50 andares e outros 30 entre 40 e 49.
Se não pode crescer para o alto, que seja para baixo, então. Foi o que ocorreu no subsolo da Bedfordbury Street, com a inauguração do pequeno B.Y.O.C, sigla de ‘Bring Your Own Cocktails’. O conceito é simples assim: não vende bebida alcoólica. É você quem leva sua garrafa, de preferência um destilado, como vodca ou rum.
Por 20 libras (R$ 80), o barman usa sua bebida com dezenas de ingredientes e a noite só termina com a garrafa vazia. Não se anime com a comida: ali, o foco é beber – são oferecidos apenas uns petiscos para acompanhar os drinks. Vale pela experiência.
Montar um negócio no subsolo londrino tem sido uma alternativa diante do caro e especulativo mercado imobiliário de Londres. No “Stables Market”, em Camden Town, um aluguel de um espaço “underground” é até quatro vezes menor do que na parte de cima, onde milhares de pessoas circulam todos os dias.
Compensa no bolso, mas complica na propaganda: é um sofrimento, por exemplo, descobrir o charmoso Tea Basement Rooms. A peregrinação inclui o desafio de achá-lo em meio a estábulos transformados em lojinhas dois andares abaixo da rua principal do mercado – isso depois de pegar um elevador escondido num labirinto.
No final, vale a pena: com móveis de segunda mão, dando um ar de anos 60, fica num espaço pequeno, para acomodar 40 pessoas que queiram comer um bolo, tomar um café ou um chá. Os preços são honestos – por 1 libra (R$ 4), bebe-se uma xícara bem servida de chá ou por 2,50 libras (R$ 10), come-se um digno pedaço de bolo.
Londres tem mais de 300 museus e galerias, muitos deles escondidos, como o “The Museum of Brands, Packaging and Advertising”, pertinho do metrô, uma atração obrigatória de quem passa por ali. Reúne nada mais nada menos do que 12 mil itens de propagandas, embalagens e marcas históricas que fazem e fizeram parte da vida das pessoas desde 1890.
Criado em 1984 pelo colecionador Robert Opie na cidade de Gloucester, o museu foi transferido em 2005 para Londres. Tem de tudo que já passou na vida de um consumidor: latinhas de refrigerante e de cerveja, centenas de chocolates, marcas de leite, brinquedos, revistas, jornais, e até tíquetes de viagem.