O engenheiro Ahmed Muthana, 57, torce para que seu filho Nasser, 20, não seja um dos 16 jihadistas que aparecem no vídeo divulgado pelo Estado Islâmico (EI) no domingo mostrando a execução do refém americano Peter Kassig.
Conversei por telefone com Ahmed por volta das 19h30 desta segunda (17h30 no Brasil). “Se confirmarem que realmente é ele, será uma tristeza enorme. Um sentimento péssimo”, disse, de Cardiff, no País de Gales, onde vive.
Nasser é suspeito de aparecer nas imagens – o governo britânico tenta confirmar a informação. Já as autoridades francesas anunciaram a identificação de um francês no grupo.
Em julho, entrevistei Ahmed sobre a atitude de seus dois filhos, Nasser e Aseel, 17, de deixarem o Reino Unido para lutar na Síria. Na época, imagens de ambos foram divulgadas na época como membros do grupo.
Naquele dia, Ahmed, que se mudou do Iêmen para o Reino Unido ainda adolescente, disse que havia “desistido” deles. Nesta segunda (17), reforçou o sentimento. “Nunca mais vou ter contato com eles. Como falei da outra vez, não os perdoo e não sei porque fizeram isso”, afirmou. “Eu prefiro não falar muito mais sobre esse assunto”, pediu.
A suspeita de que Nasser teria aparecido no vídeo deste domingo (16) aumentou após o próprio Ahmed Muthana ter dito ao jornal britânico Daily Mail que havia reconhecido o filho nas imagens.
Nesta segunda, na conversa que tivemos pelo telefone, no entanto, foi mais cauteloso: “Eu não vi o vídeo, só as fotos que me mostraram. Não se parece com ele, mas também não tenho certeza”.
Ahmed contou ainda que vem mantendo contato com as autoridades britânicas, embora afirme que nunca mais conversou com os filhos desde que deixaram o Reino Unido. Nasser foi o primeiro a desaparecer, em novembro de 2013; Aseel viajou em fevereiro deste ano.
Estima-se que pelo menos 500 jovens já tenham trocado o Reino Unido para integrar grupos como o Estado Islâmico. O fluxo tem atormentado as autoridades locais, que temem ataques terroristas em território britânico.
O episódio envolvendo os dois jovens de Cardiff levantaram suspeitas sobre centro islâmico em Cardiff chamado Al-Manar, criado em 2009 como entidade sem fins lucrativos. Os irmãos Muthana frequentavam o local, conforme mostrou a Folha em junho.