Fui assistir no último sábado (1) em Londres ao jogo entre Chelsea e Queens Parks Rangers pela milionária Premier League (liga inglesa), campeonato recheado de astros internacionais, entre eles alguns brasileiros.
Me impressionou o silêncio dos torcedores do Chelsea durante a partida no estádio dos “blues”, o Stamford Bridge. Pareciam que assistiam a uma ópera no Royal Albert Hall.
E motivos não faltam para a euforia fora dos gramados: o time do técnico português José Mourinho é líder absoluto da competição, sem ter perdido um jogo sequer dos 10 disputados até agora. Foram oito vitórias e dois empates. Favoritíssimo ao título.
No sábado, não foi diferente: 2 a 1 para o time dos brasileiros Oscar, William, Filipe Luís, Ramirez e do naturalizado espanhol Diego Costa. A torcida visitante do QPR, antepenúltimo colocado na liga, tirou onda do silêncio dos donos da casa com o grito “This a library!! (Isso é uma biblioteca!!)”.
Pois, bem. Logo após a partida, o próprio José Mourinho resolveu revelar seu incômodo com os pacatos torcedores. Reclamou publicamente do silêncio deles e da falta de apoio ao time. “Está difícil jogar em casa porque parece que estamos jogando num estádio vazio. Isso é frustrante”, declarou Mourinho.
“Quando marcamos o gol, percebi ‘oh, o estádio está cheio'”, ironizou. E ainda destilou mais uma provocação por causa da demora em acender os refletores do estádio: “Acho que o homem responsável por acender as luzes estava na mesma atmosfera da multidão, porque todos estavam dormindo. Ele demorou 20 minutos para perceber que o estádio estava escuro e eu levei 30 minutos para ver que o estádio não estava vazio”, afirmou Mourinho.
Não tardou a resposta ao treinador. Em reportagem no site da BBC, um dos líderes da torcida reclamou do preço alto dos ingressos (mínimo de R$ 200), e argumentou que, desse jeito, os jovens, geralmente os que mais incentivam o time em campo, estão cada vez mais distantes dele.
É visível nos jogos da Premier League a presença de torcedores que parecem não ter muita ligação histórica de apoio ao clube. Tenho ido a vários. O fenômeno é óbvio e natural, afinal é uma das ligas mais, senão a mais famosa do mundo. Quem gosta de futebol, sendo ou não apaixonado pelo time, quer assistir aos jogos.
Mas o preço pago por esse fenômeno é alto: você assiste ao jogo como se estivesse num teatro. E cá pra nós, futebol sem euforia nas arquibancadas perde toda sua graça e ao mesmo tempo a razão óbvia de sua existência: a paixão do torcedor pelo seu time.
Diante da polêmica e da reclamação de Mourinho, a diretoria do clube prometeu analisar a situação dos preços. O futebol e os jovens torcedores do Chelsea agradecem.