O último debate na televisão entre as duas lideranças de cada campanha tem sido apontado como ponto de partida do crescimento nas pesquisas, e até de possível virada nas urnas, do voto a favor da independência da Escócia.
Não à toa, os líderes dos três principais partidos britânicos, incluindo o premiê conservador David Cameron, deixaram Londres e foram para lá nesta quarta (10) implorar para os escoceses permanecerem no Reino Unido.
O debate foi transmitido pela BBC no dia 25 de agosto a todos os britânicos (clique aqui para assistir a trechos). De um lado, Alex Salmond, do SNP (Partido Nacionalista Escocês) e primeiro-ministro do parlamento local. É o líder da campanha do “sim”, a favor da independência.
Do outro, Alistair Darling, membro do Partido Trabalhista e que comanda o “Better Together”, pelo voto “não”, ou seja, pela manutenção da Escócia como parte do Reino Unido.
Segundo pesquisa do “The Guardian”, 71% dos telespectadores escoceses consideraram Salmond vencedor. Naquele dia, as pesquisas mostravam uma diferença de até 15 pontos percentuais pelo voto contra a independência.
Desde então, o cenário começou a inverter, chegando a um empate técnico e, pela primeira vez, o “sim” numericamente na frente (51% a 49%). Diante do cenário, a rainha Elizabeth 2ª começou a ser pressionada nos bastidores a fazer um apelo pela união. Em vão. Ontem (9), mandou um recado: não tem nada a ver com isso.
O debate entre Darling e Salmond foi tenso e sem algumas das regras que costumam engessar os debates das campanhas brasileiras. O jogo ficou mais livre e franco e os candidatos à vontade para o embate.
Em tom mais agressivo, Alex Salmond pela primeira vez não titubeou diante do tema mais polêmico da campanha: a moeda a ser usada pela Escócia em caso de separação já que os Partidos Trabalhista e Conservador avisaram que não vão aceitar dividir a libra esterlina, a forte moeda do Reino Unido.
“Se você não tem uma moeda única (com o Reino Unido), eu quero saber qual é o seu plano B?”, perguntou Alistair Darling.
Salmond respondeu que busca um “mandato” do povo da Escócia para negociar o uso da libra com a permissão de Londres. E soltou: “Há três planos B pelo preço de um. É como ônibus: você espera um e aparecem três opções”.
O que seriam os tais “planos B”? Se o governo britânico não permitir o uso da libra, a Escócia poderia usá-la mesmo assim (algo parecido com o que faz o Panamá com o dólar), ter uma moeda própria ou até mesmo aderir ao euro.
Mesmo que Salmond não tenha detalhado essas alternativas, acusadas pelos adversários de serem bravatas de alto risco, o tom de convicção do seu discurso em garantir que a Escócia sobreviverá economicamente foi recebido positivamente pelos escoceses que votam no plebiscito do dia 18.
Salmon ainda desconcertou Alistair Darling ao acusá-lo de “estar na cama com os conservadores”. É porque o Partido Trabalhista se uniu ao Conservador na campanha.
O primeiro sempre foi maioria entre os escoceses e precisa dos seus votos numa eleição nacional (a próxima é em 2015). Já os conservadores não querem ficar marcados por perder a Escócia durante o seu governo. A derrota pode significar a renúncia de David Cameron.