O prefeito de Londres, Boris Johnson, defendeu nesta segunda-feira (25) uma medida um tanto polêmica: declarar culpado, antes mesmo que se prove alguma coisa, o cidadão britânico que viajar a áreas de conflito como Iraque e Síria sem informar o governo do Reino Unido.
Em artigo publicado no jornal “The Telegraph”, Johnson pediu uma alteração rápida na legislação local para acabar com a presunção de inocência para aqueles que viajam para essas áreas. Segundo ele, o cidadão que toma essa iniciativa sem comunicar as autoridades tem “propósitos terroristas”.
A declaração ocorre em meio à pressão que o governo do Reino Unido tem sofrido após a suspeita de que um britânico membro da facção radical Estado Islâmico (EI) foi o responsável por decapitar o jornalista americano James Foley.
Johnson, como prefeito, comanda a polícia de Londres, mas não tem controle sobre mudanças na lei. Entretanto, como um dos dois principais nomes do Partido Conservador, ao lado do primeiro-ministro David Cameron, sua posição tem influência nas decisões de Westminster.
Um integrante do EI com sotaque britânico aparece no vídeo ao lado de James Foley ameaçando o governo dos Estados Unidos.
O recrutamento de jovens britânicos para se juntar à jihad vem atormentando o Reino Unido. Estima-se que pelo menos 500 já teriam viajado à Síria e ao Iraque para fazer parte do EI, facção que vem tomando territórios da região.
Durante o fim de semana, autoridades britânicas anunciaram estar perto de identificar o homem do vídeo. O jornal “The Sunday Times”, citando fontes anônimas dos serviços de inteligência, chega a mencionar um nome: Abdel-Majed Abdel Bary, 23, que deixou a família em Londres no ano passado – mas o governo não confirma.
Em um artigo no “The Telegraph”, a ministra do Interior, Theresa May, anunciou propostas para tentar inibir esse movimento, incluindo a perda do passaporte britânico para aqueles que têm dupla cidadania. Ela resiste ainda a propostas, apoiadas inclusive pelo prefeito de Londres, para retirar a cidadania de quem nasceu no Reino Unido. A ministra considera isso ilegal.
A questão dos “jihadistas caseiros” é delicada porque, em tese, nada impede que alguém deixe o território britânico para ir à Síria, ao Iraque, ou algum lugar parecido. O governo de Cameron sabe que qualquer medida extrema pode aumentar a islamofobia no país e, ao mesmo tempo, a tensão com a comunidade islâmica no Reino Unido, que não é pequena: seriam pelo menos três milhões de pessoas.
Em entrevista que fiz com o pesquisador Shiraz Maher, 33, publicada ontem (24) na Folha, ele é claro sobre o controle do recrutamento desses jovens pelo EI: “É muito difícil porque não é ilegal pegar um avião para a Turquia. É muito difícil rastrear, move-se muito fácil com passaporte europeu. Os britânicos são parte de uma estratégia de ambição global do EI. Os europeus são importante porque têm passaporte, podem se mover facilmente”.