O Partido Conservador sofreu um duro golpe hoje no Reino Unido. Caiu nesta quarta-feira a ministra da Cultura do Reino Unido, Maria Miller, acusada de usar de maneira irregular a ajuda de custo dada a membros do Parlamento.
Ela era também a autoridade designada pelo primeiro-ministro David Cameron para preparar a proposta de regulação da imprensa britânica aprovada no ano passado.
Miller entregou sua carta de renúncia na manhã desta quarta-feira. Eleita em 2005 para o Parlamento, é apontada como uma das mulheres mais influentes do Partido Conservador.
O escândalo, que tomou as manchetes da imprensa britânica nos últimos dias, é um desgaste para David Cameron a um ano das eleições gerais no país, sobretudo porque ele havia confiado a Miller a polêmica proposta de regulação da mídia.
Tudo começou em dezembro de 2012, quando o jornal “Daily Telegraph” acusou a ministra de usar por quatro anos de maneira irregular 90 mil libras (R$ 340 mil) da verba do Parlamento destinada a moradia de seus membros (seria algo como a verba indenizatória que deputados e senadores recebem no Brasil).
Segundo o jornal, ela usou o dinheiro para uma casa em Londres onde seus pais também viviam, e teria feito uma manobra para refinanciar o imóvel – chegando a dobrar o valor que havia pago por ele – para se aproveitar de uma regra que permite o uso da verba pública para abater juros desse tipo de dívida.
Uma investigação interna do Parlamento apontou que ela deveria devolver 45 mil libras, mas os membros da Casa aliviaram, reduzindo para 5.800. Na semana passada, Miller fez um pedido de desculpas num breve pronunciamento de 32 segundos pela sua postura em relação à apuração, mas disse ser inocente.
Sua postura foi considerada arrogante pelos colegas. Desde então, aumentou a pressão na imprensa britânica e no próprio Parlamento por sua saída.
David Cameron vinha resistindo, tentando defender a ministra, sua principal aliada na tentativa de mudar as regras de controle da imprensa. Na noite de ontem, os dois se reuniram e decidiram pela saída dela – uma cena típica da política brasileira quando um ministro está mergulhado em acusações.
Miller foi uma das idealizadoras da criação, no ano passado, de um novo órgão regulador da mídia britânica. A proposta, criticada por grande parte dos veículos locais, foi aprovada e assinada pela rainha Elizabeth 2ª em outubro.
O ato é decorrente do escândalo de 2011 que levou ao fechamento do jornal “News of the World”, do empresário australiano Rupert Murdoch, acusado de grampear telefones de maneira ilegal para conseguir informações.
O novo órgão regulador poderá aplicar multas de até 1 milhão de libras, além de impor correções e pedidos de desculpas por parte de jornais e revistas. Estabelece ainda um código de conduta que pede “respeito pela privacidade onde não houver suficiente justificativa de interesse público”.
A regulação é consequência de um inquérito concluído em novembro de 2012, que investigou os tabloides suspeitos de grampo ilegal. Oficialmente, nenhum veículo é obrigado a aderir às novas regras, mas sua criação gerou um ambiente de embate entre os políticos (conservadores e trabalhistas) e a imprensa.