Leandro Colon

do Reino Unido

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Editado por Leandro Colon, correspondente da Folha em Londres, blog aborda um pouco mais do que é notícia na Europa. Formado em jornalismo e com dois prêmios Esso, Colon está na Folha desde 2012.

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Impressões e contradições de Bucareste

Por Leandro Colon

Passei a semana passada em Bucareste, capital da Romênia, para ver de perto o outro lado da polêmica que toma conta da União Europeia desde 1º de janeiro: a possível invasão de romenos para os países mais ricos do bloco (leia aqui reportagem publicada hoje na Folha).

Circulei por “duas” Bucareste: a central, que concentra grande parte da classe trabalhadora, dos negócios e dos lugares turísticos, e a periferia, muito pobre, povoada em sua maioria pelos gypsies, os ciganos, alvos do governo britânico no controle de imigração.

Bucareste vive expectativa da novas regras de imigração
Bucareste vive expectativa das novas regras de imigração. Crédito: Leandro Colon/Folhapress

Tanto no centro como na periferia a sensação é a mesma: uma melancolia pós-comunismo, em parte simbolizada por construções suntuosas do ex-ditador Nicolae Ceausescu, numa capital em busca de um crescimento econômico desde a entrada na União Europeia em 2007.

É também uma cidade de salários baixos, desemprego elevado, e que, por fazer parte do bloco europeu, faz negócio em Euro, além do leu (moeda local). Resultado: pode até parecer barata para o turista, mas é cara demais para a maioria dos romenos.

Cheguei a pagar, em dois lugares diferentes, o equivalente a 4 euros (pouco mais de R$ 12) por uma cafezinho, mesmo preço de Londres, provavelmente a cidade mais cara da UE ao lado de Paris.

Por isso, jovens como a estudante de Geografia Ralusca Popescu, 20, querem deixar o país: “Isso aqui é uma contradição, temos potencial, mas não há emprego, salário digno e a cidade ficou cara após entrar na UE. O jeito é sair”.

Uma coisa é o turista que vai ao Leste Europeu, aproveita para visitar a Romênia, conhecer sua história, e tudo mais. Outra é a vida real das pessoas que vivem no país, a classe trabalhadora, as famílias.

Um sintoma de que as coisas por lá ainda estão bem atrasadas: a prática de taxistas de tentar enganar o passageiro. Ok, é algo comum em vários lugares, mas em Bucareste a ousadia é descarada: o taxista altera o taxímetro na sua frente.

Fui alvo de três, todos com a mesma pegadinha: virar a tela do taxímetro só para eles durante a corrida, assim você não acompanha o valor. No final, discretamente, o motorista aperta um botão. Pronto: uma corrida de dez minutos que era para custar 5 lei (uns R$ 3), sai 107 lei (R$ 75).

Depois de muita discussão, paguei quatro vezes menos, mas acima do que realmente deveria. A gerente do hotel me alertou que é uma prática comum na capital romena. Uma pena. Mas não se pode generalizar, há figuras honestas como o Rusu Gabriel, único taxista que topou me levar até uma feira dos gypsies que vende produtos usados (60% roubados, segundo a polícia).

Apesar de tudo isso, vale a pena conhecer a cidade e visitar, por exemplo, o prédio onde hoje funciona o Palácio do Parlamento, o segundo maior edifício do mundo, construído pelo ex-ditador Ceausescu para ser a sede do poder romeno. E tente jantar no Caru´cu bere, um restaurante espetacular, recomendo.

Na quarta-feira, fui recebido no Palácio Cotroceni, sede presidencial da Romênia, por Dan Dima, assessor especial do presidente Traian Basescu para assuntos diplomáticos. Conversamos longamente. Ele não vê problemas no fato de a Romênia perder cidadãos para outros vizinhos mais poderosos da UE, mas desde que tenham algo garantido. “Se o cidadão está feliz, empregado, envia dinheiro para sua família aqui, que também está feliz. O problema é quem vai sem essa perspectiva”, disse.

Abaixo, alguns trechos do que ele disse:

“A maioria dos romenos têm uma percepção errônea e incompleta sobre os países ocidentais. Como muita gente encontra um emprego, muitas vezes bem pago, ninguém diz para cá qual o custo de vida no país de destino, os custos de serviços públicos ou quais os riscos que devem ser assumidos por um migrante.

(…)

Devemos ter a coragem de dizer que temos um problema e que o problema basicamente significa que precisamos controlar o fenômeno da migração. Se tivermos essa coragem de verbalizar que queremos controlar este fenômeno, então podemos dizer que resolvemos metade do problema.

(…)

A migração não é um problema, mas sim a migração descontrolada. A migração moldou o mundo em que vivemos hoje e redefiniu nações inteiras. A migração como um comportamento natural do ser humano faz com que o mundo fique bonito e  diverso. Nós não temos os motivos racionais para se opor a migração”

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