Imagine um cartola estrangeiro que investe no time do coração de milhares de torcedores, o leva à elite do futebol, mas, em troca, simplesmente troca a cor do uniforme, mexe no símbolo do clube, quer acrescentar a palavra “Dragons” em seu nome oficial e nomeia um jovem de 20 e poucos anos amigo do filho como diretor.
Parece uma maluquice, mas o bilionário malasiano Vincent Tan tem feito tudo isso no Cardiff City F.C., da capital do País de Gales, novato da Premier League. A imprensa britânica o chama de “pior” e “mais odiado” cartola do Reino Unido.
Dono de um conglomerado de empresas na Malásia, Vincent Tan fez fortuna nos anos 80 ao comprar a franquia do McDonald´s em seu país. Apesar de admitir não entender de futebol, comprou 51% das ações do Cardiff FC em 2010 e investiu 100 milhões de libras no time, algo em torno de R$ 400 milhões.
Os resultados vieram, como o tão sonhado acesso à Premier League depois de 51 anos. Vincent Tan viaja de Kuala Lampur para o Reino Unido em seu avião como quem faz uma ponte-aérea Rio-SP. É figurinha carimbada nos jogos, sempre de óculos escuros e a camisa vermelha do Cardiff.
E é justamente esse uniforme que enfurece os torcedores, afinal, o apelido do clube simplesmente é “Bluebirds” (pássaros azuis). Nesta temporada, o cartola da Malásia trocou o oficial azul pelo vermelho, mudando tradição centenária (o clube foi fundado em 1899). O magnata diz que espera atrair mais investimentos – na verdade, seria porque ele gosta mais da segunda cor.
Não parou por aí. Ele mexeu no símbolo do time. O pássaro que se destacava sobre um pequeno dragão foi “rebaixado”. O dragão manda agora. E mais essa: a próxima empreitada seria trocar o nome do próprio clube de Cardiff F.C para Cardiff Dragons.
Na semana passada, um grupo de torcedores protestou: “ame o azul, odeie o vermelho”. Na rede social, proliferam páginas “Eu odeio Vincent Tan”.
É meio consenso na imprensa local que, da arquibancada, ele dá pitacos ao treinador. A última polêmica foi a recente demissão do técnico Malky Mackay, idolatrado pelos torcedores por ter levado o time à Premier League.
A confusão entre os dois começou depois que o cartola resolveu demitir um dos diretores para nomear um jovem de 23 anos, amigo do seu filho. Um novo técnico foi anunciado ontem. O Cardiff ocupa a 17ª colocação na tabela, na beira da zona de rebaixamento.
Vincent Tan tem seus argumentos para fazer o que quer no Cardiff. Botou dinheiro no time, o levou à Premier League, e tudo mais. Agora, futebol só é um grande negócio porque também mexe com a paixão das pessoas, a cultura de uma cidade, a história de quem fundou o clube. Quem torce para o azul não quer o vermelho. Quem gosta do preto e branco não quer o verde. É maluco isso? Pode até ser, mas sem essa “irracionalidade” o futebol seria chato demais.