Cena típica de Londres: você vai a uma loja de conveniência comprar bebida e é atendido por uma muçulmana, geralmente com um lenço, um véu no rosto. Nada fora do normal. O islamismo é a segunda religião do Reino Unido, com cerca de três milhões de adeptos.
Mas a polêmica agora, na véspera do Natal, é que vendedores muçulmanos da rede de departamentos Marks & Spencer, uma das mais famosas por aqui, estariam se negando a vender bebida alcoólica aos clientes, que precisam, no caso, esperar por um outro atendente. Não demorou muito para a história parar nos jornais britânicos no fim de semana.
Afinal, o atendente tem direito de se recusar a vender bebida alcoólica em razão de sua opção religiosa? Nem a direção da Marks & Spencer conseguiu dar uma boa resposta.
Primeiro, tentou se explicar e disse que deveria respeitar a religião de seus funcionários. Ou seja, no caso dos muçulmanos, eles estariam livres para recusar a venda de bebida alcoólica e de carne de porco, proibidos no islamismo.
Na era de rede social bombando, a reação foi pesada. Clientes acharam um absurdo serem obrigados a esperar na fila até a chegada de um outro atendente não muçulmano. Temendo um boicote e um prejuízo incalculável, ainda mais em época de festas, a empresa deu uma recuada e divulgou hoje uma nota em que pede desculpas.
“O serviço ao cliente é nossa prioridade número um (…) Gostaríamos de pedir desculpas por qualquer confusão e tranquilizar nossos clientes de que esse foi um incidente isolado”.
Há pouco tempo, uma matéria publicada na Folha destacou o debate sobre a permissão para médicas muçulmanas se recusarem, durante a consulta, a tirar o véu que cobre seu rosto.
Para nós, brasileiros, é um tema distante, muito longe de nossa realidade. Mas, aqui, é algo que ganha uma dimensão absurda por causa da relação, muitas vezes tensa, entre a comunidade muçulmana e as demais. A polêmica dos atendentes é mais uma que surgiu e, como outras, sem unanimidade.