“É preciso coletar provas, processar e banir”, diz chefe de investigação contra “hooligans”

Por Leandro Colon

O promotor Nick Hawkins, chefe da equipe da Procuradoria britânica (conhecida como CPS) que investiga violência no futebol inglês, é claro sobre a fórmula para combater os torcedores violentos nos estádios: “É preciso ter sucesso para coletar provas e processar. Se isso é uma prioridade para o país, é possível acabar com a desordem no futebol”.

Conversei com ele na quinta-feira para a reportagem publicada na edição de hoje da Folha revelando que 46 mil torcedores foram presos nos estádios ingleses desde 2000, quando uma lei dura de combate aos “hooligans” entrou em vigor.

Nem mesmo o promotor sabia desse balanço total. Nick Hawkins é hoje a maior autoridade na Inglaterra na investigação contra a violência em estádios de futebol.

Ontem fui conferir de perto a “segurança” dos estádios ingleses. Estive no jogo Fulham 2 x 4 Manchester City, em Londres. O Fulham tem uma das torcidas mais pacíficas e a do Manchester City está entre as mais violentas. Ontem, estádio lotado, torcida visitante presente, mas tudo em clima de paz.

Confira abaixo os principais trechos da conversa com o promotor Nick Hawkins:

Como o sr. vê a atual situação da violência nos estádios ingleses?
Nos últimos dez anos, nós tivemos uma significante redução da violência. Eu acho que vários fatores contribuíram para isso. Primeiro, temos policiais nos jogos identificando de diferentes maneiras quem causa os problemas Segundo, conseguimos muito bem coletar evidências das pessoas que comentem delitos. Temos muitos promotores usando a legislação com eficácia, banindo torcedores de jogos, impedindo que viagem para fora para assistir a partidas de times ingleses por no mínimo três anos. No momento, há em volta de 2,5 mil torcedores banidos como resultado de delitos dentro e em volta dos estádios. Temos obtidos muito sucesso.

Analisamos todos os relatórios do governo britânico sobre prisões desde 2000. Chegamos a 46 mil torcedores presos nesse período…

Eu não tinha essa informação porque nem todas prisões resultam em acusações, mas não me surpreende. Agora, as pessoas condenadas por violência serão processadas para serem banidas dos estádios.

É interessante porque as prisões representam menos de 1% dos torcedores que assistem a jogos, mas mostram que a lei é aplicada, é isso?
Eu acho que sim. Eu sou um fã de futebol. A maioria dos torcedores não quer a violência no estádio ou fora dele. A maioria se comporta bem e considera bem-vinda a punição à violência. E algumas das acusações que temos vêm de torcedores que reportam esses comportamentos para a polícia. E mais: uma das coisas mais importantes aqui é que entre o jogo e você há câmeras que auxiliam na identificação.

Qual o conselho o senhor daria para as autoridades brasileiras combater a violência nos estádios?
É preciso ter sucesso para coletar provas e processar. Um exemplo aqui, minha experiência pessoal: nós conseguimos que um jornal local colocasse fotos dos procurados. Se todos trabalharem juntos, em Brasil, na Inglaterra, em qualquer país, isso é muito fácil de ser atacado. O Brasil é um país com fantástica tradição no futebol. Eu suponho que os colegas no Brasil estejam trabalhando, são excelentes profissionais.

Sim, mas na prática nossa dificuldade é aplicar a lei…
Sim, claro, mas nós também tivemos muitos problemas muitos anos atrás, não tínhamos apoio da força da lei, por exemplo. Mas se isso é uma prioridade do país, para o clube de futebol, para o Brasil, ou Inglaterra, é possível acabar com a desordem no futebol.