Afinal, o “ladrão do século” é herói ou vilão? É algo que nem a imprensa britânica consegue definir direito.
Seu amigo e biógrafo Christopher Pickard diz que Ronald Biggs era um homem “generoso”, “bem-humorado”, e está entre os principais personagens dos últimos 50 anos. Mas Anthony Delano, autor de um livro sobre ele, é categórico: Biggs foi bandido, sem moral, surrupiou dinheiro que não era dele. Não valia nada.
No imaginário de muita gente, Biggs virou herói de roteiro de cinema: protagonizou o mais audacioso assalto da história do Reino Unido, foi preso, mas conseguiu fugir para Paris, onde fez cirurgia plástica.
Depois, saiu pelo mundo se escondendo e foi parar nas praias do Rio de Janeiro. Arrumou uma namorada brasileira, com quem teve um filho, Mike, popstar infantil nos anos 80 com a Turma do Balão Mágico.
O estilo “bon vivant”, com um tom sarcástico, contribuiu para essa espécie de “culto” ao ladrão de trem, principalmente no Brasil. No Rio, recebeu até homenagem em enredo de escola de samba. Ao falar de assaltos, a Porto da Pedra cantou na Sapucaí em 1998: “Ninguém confirma quem raptou; As cebolinhas, tem boi na linha; cuidado com o trem pagador”. Foi rebaixada.
Mas Biggs foi, sim, um bandido, malandro, que se aproveitou da lei brasileira para viver em liberdade (e até certo ponto como celebridade) pelas praias de Ipanema e Copacabana.
Os que o tratam como vilão em Londres lembram que a história não apaga que ele roubou em 1963, ao lado de uma gangue de 15 pessoas, 2,6 milhões de libras – uma fortuna para a época.
Jack Mills, o motorista do trem agredido com uma barra de ferro na cabeça, nunca mais se recuperou e morreu sete anos depois de leucemia.
No fim da vida, Biggs tentou se dar bem de novo: teria se entregado às autoridades britânicas para se aproveitar do sistema de saúde do Reino Unido. Morreu hoje completamente falido.