Diretora do centro de pesquisa em surdez e linguagem do University College London, a professora Bencie Woll diz que nunca viu os sinais do intérprete da cerimônia em homenagem a Nelson Mandela. “Os sinais utilizados por essa pessoa não se pareciam em nada com qualquer linguagem de sinais naturais que eu já tenha visto”, disse a professora ao blog. “É possível que ele conheça alguns sinais, mas claramente não é qualificado ou experiente”, afirmou.
Nesta quarta-feira, a comunidade de surdos da África do Sul denunciou o intérprete dos discursos como um impostor.
Leia abaixo trechos da conversa com a professora, autora de livros sobre o tema e premiada no Reino Unido:
A sra. concorda que esse intérprete não era um verdadeiro intérprete?
Os sinais utilizados por essa pessoa não se pareciam em nada com qualquer linguagem de sinais naturais que eu já tenha visto. É sem ritmo, prosódia, sinais de stress. Pareciam até com alguns sinais, mas produzidos sem qualquer estrutura, de uma forma muito mecânica. E mais, os surdos e intérpretes de língua de sinais da África do Sul não reconheceram a assinatura do intérprete ou não entenderam o que ele estava produzindo. É possível que ele conheça alguns sinais, mas claramente não é qualificado ou experiente.
A senhora conseguiu entender algum sinal feito por ele na transmissão?
É possível que ele estivesse produzindo alguns sinais, afinal, não conheço a linguagem de sinal da África do Sul, então não posso dizer que esses sinais são de lá. Mas como disse antes, os membros da comunidade de surdos concordam que esses sinais eram incompreensíveis.
Como a senhora avalia a repercussão desse caso?
É muito triste que a oportunidade da comunidade de surdos de fazer parte de um evento em memória a Mandela tenha sido destruída pela falha em oferecer legendas ao vivo para quem tem dificuldade em ouvir ou adequados sinais de interpretação para os surdos. Esperamos que os organizadores de eventos internacionais futuros, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos do Brasil, consultem a comunidade de surdos e ofereçam acesso a intérpretes qualificados.