A reconstrução da polícia de Kosovo

Por Leandro Colon

Uma força policial que busque reconciliação política, diversidade cultural e étnica e equilíbrio entre homens e mulheres.

Esses foram os princípios apresentados ontem pela presidente da República de Kosovo, Atifete Jahjaga, em visita à “Blavatnik School of Government” (Universidade de Oxford), ao falar sobre a reconstrução da policia local após quase seis anos de declaração de independência da Sérvia.

“No passado, cidadãos de Kosovo viveram inimaginável repressão exercida pelo aparelho sérvio, incluindo uma força policial altamente politizada e brutal que os perseguiu na base de sua etnicidade e posições políticas”, disse a presidente.

Aos 38 anos, Atifete Jahjaga integrou a direção da policia de Kosovo entre 2009 e 2011, quando ela foi eleita presidente pelo parlamento. “O desafio é não só criar uma força policial profissional, mas também construir a confiança dos cidadãos nessa instituição, que era associada ao medo e usada como ferramenta de repressão”, contou.

A presidente Atifete Jahjaga (à dir.), ontem em Oxford
A presidente Atifete Jahjaga (à dir.), ontem em Oxford

O discurso foi feito na conferência “People Power Politics”, da “Blavatnik School of Government” (Escola de Governo), criada há três anos pela Universidade de Oxford, uma das mais prestigiadas do mundo.

A Folha foi um dos poucos convidados a acompanhar o evento, que ocorreu entre segunda e terça, destinado aos estudantes de mestrado. A escola de governo, com foco em selecionar “lideranças” que pretendem atuar na área de gestão pública, foi criada em 2010 após uma doação de 75 milhões de libras (algo em torno de R$ 280 milhões) pelo magnata russo Leonard Blavatnik (que dá nome à instituição). A universidade contribuiu com outros 26 milhões de libras (R$ 96 milhões).

Em sua palestra ontem, a presidente Atifete Jahjaga contou que membros do Exército pela Libertação de Kosovo foram recrutados para integrar a polícia local após a desmilitarização desta força. Ela destacou também a convocação de mulheres e pessoas de comunidades minoritárias para dar credibilidade à atuação policial.

“Era importante passar a mensagem de reflexão de que o novo Estado de Kosovo manteria a diversidade étnica, além de que fosse um exemplo por recrutar mulheres. Isso aumenta a confiança por mostrar que uma instituição democrática é guiada pela excelência dos seus membros e não pela tradição”.

Disputa
O território de Kosovo declarou sua independência da Sérvia em fevereiro de 2008, depois de anos de disputa política na região.

O governo sérvio perdeu de fato o controle da Província em 1999, depois de uma ação militar da Otan (aliança militar do Ocidente) liderada pelos EUA para conter a perseguição a separatistas albano-kosovares. Deste período até 2008 Kosovo ficou sob administração da ONU.

Até hoje, 96 países já reconheceram a independência de Kosovo, entre eles Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão e Alemanha. O Brasil está entre os governos que ainda resistem a seguir esse caminho.