Enquanto rolava ontem a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, aqui em Londres o assunto era outro. A mídia local, políticos e setores de infraestrutura entraram em polvorosa com o anúncio do Partido Trabalhista de que vai congelar os preços de gás e energia se ganhar as eleições de 2015. E hoje só se fala nisso também.
O anúncio foi feito num discurso do líder do partido de oposição, Ed Miliband, na tradicional conferência anual da legenda. Ele prometeu que, se assumir o poder, as tarifas não vão subir até 2017.
“Suas contas serão congeladas, e milhares de famílias e empresas serão beneficiadas. É isso que quero dizer sobre um governo que luta por você, é isso que quero dizer quando falo que a Grã-Bretanha pode fazer melhor do que isso”, afirmou, numa crítica ao atual governo de David Cameron, do Partido Conservador.
As seis grandes empresas fornecedoras de energia no Reino Unido se revoltaram. Alegam, por exemplo, que congelar tarifas vai causar um blecaute do sistema de energia.
Com preços congelados, o consumo vai aumentar, as empresas não terão margem para investimentos, e o abastecimento vai entrar em colapso, argumentam. Sem dinheiro, vão ter que demitir, acrescentam.
A Centrica, uma das grandes empresas, ameaça deixar o Reino Unido se os seus custos subirem e não for possível repassar parte deles ao consumidor porque as tarifas estarão congeladas. Roger Carr, CEO dela, disse que Miliband vai levar a economia britânica à ruína.
O líder trabalhista enviou uma carta às empresas pedindo que contribuam com a ideia, senão serão encaradas como o problema do sistema de energia. Na conta dele, elas vão arcar com um custo de 4,5 bilhões de libras com o plano, algo em torno de R$ 16,2 bilhões. Especialistas e as empresas afirmam que o valor pode ser o dobro.
O congelamento vai gerar, dizem os trabalhistas, uma economia de, em média, 120,00 libras por ano (R$ 432,00) para as famílias e 1.800,00 libras (R$ 6,4 mil) para as empresas.
Lideranças do Partido Conservador também reagiram, dizendo que Miliband está enganando os britânicos, prometendo “mágica”, um truque que só vai abalar as finanças do país.
A promessa de Miliband ganhou repercussão porque sinaliza também certa disposição de levar o Reino Unido a uma administração trabalhista mais à esquerda, numa forte interferência do Estado no mercado. Aqui, quem não gosta dele o chama de “Ed Red”, por ser mais alinhado à esquerda do que outros colegas de partido, como os ex-premiês Tony Blair (1997-2007) e Gordon Brown (2007-2010).
Miliband, jovem político de 43 anos, busca unanimidade no Partido Trabalhista para tentar um dia virar primeiro-ministro. Ainda é visto com desconfiança, embora seja, por enquanto, a aposta dos trabalhistas no desejo de retomar o comando do governo, perdido em 2010, depois de 13 anos de poder.
O discurso de ontem foi encarado como um bom momento interno para ele. Aclamado pelos colegas, mostrou maturidade num discurso feito de cabeça, sem anotações, com oito mil palavras, conforme registrou a imprensa.