Quem vem do Brasil para cá provavelmente passará num pub, aquele bar meio escuro, para beber um “pint”, um copo de mais ou menos meio litro de cerveja. É uma das mais famosas e antigas tradições britânicas. É um símbolo social do Reino Unido.
Pois, bem. No fim da semana passada foi lançada a mais nova edição do guia de pubs, o “Good Pub Guide 2014”. Não há polêmica sobre os bons, mas sim sobre uma avaliação de que quatro mil precisam ser fechados.
Virou uma crise na indústria dos pubs, que emprega 330 mil pessoas. Os editores do guia não poupam no ataque: “É a hora certa para fecharem as portas”. Os argumentos são de que esses pubs estão decadentes, não saíram da década de 80, oferecem comidas, serviços e ambiente de péssima qualidade. São, os que eles chamam, de “Bad Pubs”.
Numa comparação bem primária, seria como sugerir o fechamento de bares, choperias e botecos no Brasil. O guia, que existe desde 1983, ainda alerta para problemas estruturais que podem minar o futuro de outros pubs, incluindo preço da cerveja (média de 3,60 libras – algo em torno de R$ 11), qualidade da comida, grosseria no atendimento, além dos salários dos funcionários. Uma média de 26 pubs fecham por semana – foram 5 mil nos últimos cinco anos.
A reação ao guia foi imediata. A organização sindical GMB, uma das maiores do Reino Unido, pediu que os pubs sejam salvos, não fechados. Roger Protz, autor de de 20 livros sobre cerveja, questiona: “Quem é que decide o que é ruim?”. Para ele, é preciso buscar uma saída para salvar os pubs dos “adversários” de hoje, e não atacá-los.
“Os supermercados, ao vender cerveja mais barata do que a água de garrafa, estão minando pubs, sem pensar nas consequências sociais”, disse. “O pub britânico sobreviveu a pragas, incêndios, revoluções, guerras e recessões e vai continuar agradando e refrescando milhões. Ele merece o nosso apoio”, afirmou Protz.
Já Giles Coren, colunista gastronômico do “The Times” desde 1993, foi na direção contrária. Defendeu a extinção de todos – algo em torno de 50 mil: “Pubs não precisam ser salvos. Precisam ser fechados, para sempre. Não só os ruins, mas todos (…) Isso é 2013, não 1320”.
Num longo artigo, ele ressalta a falta de qualidade da comida oferecida e argumenta que a cultura da cerveja ofuscou a gastronomia (?) britânica. “Na França, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria, Bélgica, os espaços equivalentes para beber sempre também foram lugares para comer. Mas, nos pubs, não, você não pode consumir comida”, disse.
Após umas 22h, são raros os pubs que oferecem algo para comer – só bebida mesmo, cenário inusitado para nós brasileiros. Como os pubs predominam, é difícil encontrar algo bom para comer em Londres no fim da noite. E ainda convidam os clientes a se retirarem por volta das 2h, quando precisam fechar as portas.
O “Good Pub Guide 2014” alerta ainda para a falta de valorização dos chefs dos pubs. Eles ganham, em média, de 15 mil a 20 mil libras por ano, algo em torno de R$ 4,4 mil e R$ 6 mil mensais no Brasil.
Apesar de toda confusão causada, o guia, lógico, também dá dicas do que é bom. Classifica 4,8 mil pubs como de primeiro escalão . Clique aqui para ver os principais premiados.
(Como podem perceber, esse é o primeiro post do blog, que acaba de estrear no site da Folha. Espero que gostem!)